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Subtendidos no subtítulo
Um dos aspectos mais intrigantes na leitura de Falei com Da Vinci, é a verificação de que ele pode dizer coisas que parece não estar dizendo: além das informações explicitamente enunciadas, existem outras que ficam subentendidas ou pressupostas.
Quando uma informação não é dita, mas tudo o que é dito nos leva a identificá-la, estamos diante de algo subentendido ou inferível. Nada é gratuito nesse livro, tudo tem sentido, é fruto de uma intenção consciente. Para captar os implícitos, precisamos inferir a partir de insinuações escondidas por trás de cada informação.
Subentendido significa algo que se entende, apesar de não estar expresso ou enunciado. Algo que está na mente, mas não foi expresso de forma explícita.
Eucajus faz uso indiscriminado da Polissemia, para gerar ambiguidade, que é o duplo sentido do enunciado. Como no subtítulo do livro, a palavra ‘ordem’. Para criar uma “Anfibologia”.
Anfibologia vem do grego amphibolia e é considerado um vício de linguagem. É a duplicidade de sentido em uma construção sintática, quando permite mais de uma interpretação. No caso, uma ambiguidade lexical: Ordem dos fantasmas.
- Quem são os fantasmas? Os personagens da narrativa ou os pensamentos do autor?!
No entanto, ao captarmos os implícitos, e as insinuações escondidas por trás da narrativa, descobriremos que o subtendido está na palavra ‘fantasmas’! Cujo significado, está no contexto da Psicanálise e da filosofia. Na Psicanálise, a noção de Fantasma está ligada à fantasia fundamental do sujeito, isto é, uma narrativa através da qual o sujeito se coloca no mundo, se enxerga e se relaciona com os outros. O atravessamento dessa fantasia, isto é, das identificações mais aglutinadas e alienantes em relação ao Outro, é o objetivo de uma análise, até porque, como dizia Lacan, não há cura, na medida em que não se pode curá-lo de seu inconsciente. Na filosofia, segundo São Tomás de Aquino, o fantasma corresponde ao conteúdo que é armazenado na phantasia (fantasia):
[...] por parte dos fantasmas, a operação intelectual é causada pelos sentidos. Mas, uma vez que os fantasmas não são suficientes para modificar o intelecto passivo, devem se tornar inteligíveis em ato pelo intelecto agente. Não se pode dizer que o conhecimento sensível é a causa total e perfeita do conhecimento intelectual, mas sim que é de certa forma a matéria causal.
Portanto, os fantasmas são os dados recolhidos de cada um dos sentidos, desempenhando três atividades: organizar as informações que recebemos pelos sentidos, representar de modo semelhante à coisa sensível e apresentar o fantasma ao intelecto agente.
Por que Ordem dos Fantasmas? Porque, o intelecto não pode fazer um julgamento perfeito se não for debruçado no fantasma formado a partir das afeções sensíveis, assim o ponto de partida para o julgamento do intelecto são sempre os fantasmas.
Falei com Da Vinci, conduz o leitor aos implícitos, a uma leitura plena, que desvenda, que revela, que possibilita uma visão crítica do mundo e de nó mesmos, conduz a uma nova ordem de cidadãos leitores, que já existem. Mas, que estão por aí, configurados como fantasmas na sociedade.
Ilana S. Rabel
Parábolas e fabulas no capitulo ‘Nas Gravações’
As histórias do capitulo ‘Nas Gravações’, servem de ponte, para que possamos responder as futuras questões do texto. Nessas pequenas histórias o autor incluiu metaforicamente as angústias e aflições de todas as fases da vida, desde a infância até a fase madura, aliando aspectos da inocência infantil à profunda apreciação psicológica da velhice, congregando o princípio e o fim da existência humana. O autor faz de forma suave, bem humorada e com encantamento, cujo objetivo é puramente mítico, pois o conto de tradição oral, seja ele lenda, fábula ou parábola, encanta por alimentar o nosso imaginário. As imagens míticas desvelam em linguagem simbólica, as estruturas mentais primitivas que permanecem inibidas na psique do leitor moderno como herança arquetípica da humanidade. O tesouro de poderes imaginativos que está vivo dentro de cada leitor ressurge magicamente a partir da leitura!
Todas as histórias possuem basicamente o mesmo intuito: formar e enriquecer o “Self” do leitor através da irradiação de energias simbólicas que nutrem o pensamento inconsciente. Assim, ao chegar em “Revelações” o leitor estará aparelhado!
Alexandre Duarte
Inventor de coisas para voar
No capítulo Gravações, em Falei com Da Vinci, uma historieta de três páginas, faz referências diretas ao livro Vida e Morte de M.J. Gonzaga de Sá de Lima Barreto, e a alegoria de abertura, “O inventor e a aeronave”.
Nesta obra, Lima Barreto, apresenta um eu que é manipulado por um sujeito que também se apresenta duplicado: um eu que se põe dentro da ficção, mediante a condição de autor implícito, e outro – o autor real – que cria a obra. Este embuste ficcional conserva o jogo dialético e a tensão entre a voz do autor e a voz do narrador, entre o enunciado e a enunciação. Através desse truque de autoria, o autor/real se exime de assumir a autoria do relato, pois inventa um narrador intermediário. “O inventor e a aeronave”, é um texto metalinguístico, que expõe dois níveis da criação: da representação e da estruturação da narrativa, que se fundamenta na arte do fazer literário.
Em Falei com Da Vinci, o autor busca um resultado digamos, ‘quase’ semelhante por caminhos diferentes. Visto que o eu-autor-real se manifesta logo no 'Aviso', declarando a narrativa como experimento de leitura e também de forma implícita do eu-poeta que se manifesta durante toda narrativa através de belas metáforas e associações. E o autor-narrador-fictício, que se revela no penúltimo capítulo, 'Na Persona'. Neste capitulo o autor-narrador-fictício toma consciência da sua condição ficcional, como personagem no processo da Imaginação Ativa. Ao assumir sua existência no mundo da ficção, passa a existir como coautor do livro. Para desatar o provável nó, na sua cabecinha, observe a imagem abaixo:
Num primeiro momento em Falei com Da Vinci, o contexto de realidade do personagem principal é vivido através de suas memórias, num enredo tipicamente pertencente ao realismo fantástico. Num segundo momento, a amnésia psicogênica coloca essa realidade em xeque, como não vivida, mas fruto criativo do personagem-narrador como identidade de escritor. No terceiro momento, o processo da Imaginação Ativa torna o personagem-narrador em personagem-escritor-fictício com potência para existir como representação, e num último momento como estruturação do fazer literário, esse personagem se torna um hibrido de coautor-autor. Deixando no leitor, a péssima sensação de ter perdido algo. Isso ocorre, porque não estamos acostumados a ver ou imaginar as coisas de dentro pra fora... Por ser uma leitura que flui, temos a sensação de afunilamento dos eventos, quando na verdade, ocorre uma expansão. Como diz o hermético personagem Mestre: É dentro dos nossos olhos e ouvidos que a magia acontece! Olhe novamente para imagem acima, e experimente imaginar que você está pintando! Você está na frente do quadro, pintando. A magia, é que se você é o pintor, você não aparece, você não vê seu rosto, lembre-se, você está pintando! No caso, escrevendo ou lendo...
Prof. José S. Queiróz
Lendo imagens com Falei com Da Vinci
Qualquer pessoa que embarque na viagem de exploração dos significados de uma pintura logo ficará confusa com a quantidade dos pontos de vista apresentados. Uma orientação simples é: se você vê alguma coisa, acredite nela – não importa o que digam. Se você não consegue ver, não acredite. Cada pessoa tem o direito de levar para uma obra de arte o que quiser levar através de sua visão e de sua experiência, e guardar o que decidir guardar, no nível pessoal. No entanto, o conhecimento da história e as habilidades de leitura pode ampliar essa experiência.
- A pequena história do relógio onde a sobreposição dos ponteiros simboliza a relação sexual de um casal, reivindica a mesma percepção que deveríamos ter com a imagem da 'ponte' em Mona Lisa.
- Que percepção Doutora?!
- Que a ponte simboliza uma ligação construída sobre muitos obstáculos daquela época… inacreditavelmente os mesmos obstáculos preconceituosos que impedem a simples interpretação...
Quando se analisa um objeto iconográfico, é importante tentar inverter a lógica tradicional da linearidade, associando o que está sendo estudado com questões atuais associadas ao nosso cotidiano, estabelecendo relações e conexões com contexto.
- Leonardo da Vinci era mesmo um gênio…
- Um gênio que plagiou dois personagens na Ceia…
- Quais?
- Apóstolo André ele plagiou da Ceia de Castagno, pintada 45 anos
antes e o apóstolo Felipe da Ceia de Ghirlandaio, pintada 15 anos antes…
Para que não se perca a intencionalidade de articulação com a narrativa é preciso que se obtenha o máximo possível de informação sobre o objeto iconográfico. Interrogando conteúdos subjetivos, percebendo intenções, finalidades e valores para analisar e desmistificar seus significados aparentes.
- Você tem razão, mas naín respondeu minha pergunta!
- O sal está naquela mesa por se tratar de um poderoso símbolo de amizade nas tradições do antigo Oriente Médio. Símbolo de lealdade, eternidade e pureza… porque jamais apodrece ou se corrompe! Na Bíblia, aliança de sal significa uma relação com Deus que não pode ser rompida...
Muitas obras utilizam uma linguagem de simbolismo e alegoria. Os objetos reconhecíveis, mesmo pintados em detalhe, não representam apenas eles mesmos, mas conceitos de significado mais profundo ou mais abstrato. Para entendê-los, é preciso compreender o contexto, a cultura e o artista que o criou.
- Somar! Vou mostrar uma coisa… só um minuto… Aqui estão, olhe esses
desenhos anatômicos feitos por Leonardo. O que vê?
- São perfeitos…
- Viu o que qualquer analfabeto vê! Por Zeus! Veja o que seus ouvidos
ouvem, e escute o que seus olhos veem! O que os desenhos dizem?!
Olhar não é o mesmo que ver, assim como ouvir não é igual a escutar. Olhar envolve apenas o esforço de abrir os olhos; ver significa abrir a mente e usar o intelecto. Como fazer isso?!
- Eu sei.
- Sabe?
- Sei que está na hora de embarcar.
Ver uma pintura é como partir para uma viagem, a melhor maneira de viajar é com um guia que lhe mostre coisas que do contrário passariam despercebidas.
Alexandra Pimentel – Prof. de Artes
O Leitor Implícito
A elaboração estética em Falei com Da Vinci, utiliza uma linguagem mais próxima das situações de fala cotidiana, abdicando do uso de formas mais elaboradas ou complexas com predomínio do sentido metafórico.
O leitor é acionado com marcas, pistas e indícios textuais, que funcionam como uma espécie de roteiro para que a leitura não se perca e seja pertinente. Embora cada leitor, por ter acumulado experiências distintas, vai seguir pistas diferentes e construir seus próprios sentidos sobre o que lê, entretanto, todo autor internaliza um modelo de leitor (“leitor implícito”) a quem eventualmente se dirige. Como poeta que é, Eucajus o faz através de metáforas bem criativas. O trecho abaixo exemplifica o tipo do seu leitor imaginado:
- Mestre. Porque suas histórias não têm título?
- Tenho medo que o título seja melhor que a história. Mas, para satisfazer sua vontade, vamos intitular essa história de Shopping Felicidade.
- Tem loja pra criança nesse shopping?
- Tem lojas para satisfazer todas as idades.
- E praça de alimentação?
- Querida, neste shopping tem um hambúrguer de tirar o chapéu, coloca o MacDano's no chinelo. É o Big Hannibal, especialidade da Hamburgueria Morte Lenta.
- Big Hannibal? Nunca ouvi falar.
- Mestre, eu sei. É o cara que comia o cérebro das pessoas naquele filme, né?
- O hambúrguer é de cérebro?!
- Não querida. Mas... bem que podia ser!
- Credo Mestre!
- De cérebro. Entendi... mas por que Hannibal?
- Porque a mãe dele dizia: Lector, você deve experimentar coisas novas!
- Lector, não. É Lecter!
- Isso, Lecter... Agora queridos inocentes, silêncio!...
(Falei com Da Vinci...)
Esse “leitor implícito” é curioso, lê as entrelinhas, pesquisa citações, interpreta metáforas e faz associações, sente-se provocado com uma leitura repleta de porquês. Porque 'lector' em inglês, é leitor! Quanto a Mac Dano's... o livro fala de leitura... fala de algo que alimenta nosso cérebro...
Alegoria da caverna no crânio
O homem por vezes sente receio em sair de sua “caverna” pessoal e se deparar com uma realidade por vezes desconhecida, por vezes questionada... Quanto mais tem noção da realidade mais o homem tem medo dela e prefere ficar enclausurado nas paredes de sua caverna... Onde seus únicos companheiros são as sombras. Para aumentar o efeito dramático de realidade, há sons ecoando no fundo da caverna, como se viessem das próprias sombras que passam... Este é o mundo sensível, na medida em que a mente é presa e estruturada numa ilusão. Este retrato da condição humana não é fixo...
Platão pergunta: Suponhamos que entre esses homens, um deles se atreve a abalar a visão do que concebe como real?! Se atreve a desafiar as bases de pensamento?! Se atreve a fazer sua própria leitura das obras de Leonardo da Vinci?!
Diríamos em coro: Ele é um louco! Só pode ser louco!
Diríamos, porque o certo é seguir uma multidão cega e surda, enquanto o transgressor precisa ser punido, uma caça às bruxas pela autoridade da intelectualidade pessoal... Enquanto a alegoria da Caverna serve exatamente para reforçar a ideia da busca e da não concepção automática de preceitos comuns.
Além de genial, a ilustração da "caverna", com a cavidade craniana e as imagens projetadas no lóbulo occipital, o autor nos oferece uma bela versão para Alegoria da Caverna de Platão. Falei com Da Vinci é parque de diversão para quem já leu muito na vida!
Pedro Paviani
A Deusa Mnemósine
O homem se relaciona com a sociedade através de símbolos construídos para transmitir valores e ideias. Nesse esforço por fazer-se compreender, estabelecemos relações bastante complexas de narração, relacionando palavras e símbolos que misturam o tempo presente com referências ao passado e indagações sobre o futuro.
A memória, a exemplo da linguagem, é permeada por fenômenos que, tanto nos aspectos biológicos quanto nos psicológicos, podem ser vistos como resultado de sistemas dinâmicos de organização
Na Grécia Antiga, os gregos transformaram a Memória na deusa Mnemosine. A poesia é uma das nove filhas de Mnemosine. Segundo Le Goff, o poeta era visto pelos gregos como alguém “possuído pela Memória” (O autor é um poeta). A poesia carrega consigo a capacidade de comunicar ideias complexas através de uma linguagem que, a exemplo do tratamento que os gregos deram aos poetas, pode ser considerada loucura.
Apesar do esforço empreendido pela humanidade em compreender racionalmente todos os fenômenos, e da determinação social em expelir o que não for considerado “normal”, talvez seja nos “possuídos pela Memória” — e pela loucura — que o incompreensível encontra abrigo.
O Inferno de August Strindberg
Em Falei com Da Vinci, a palavra inferno é citada oito vezes no singular e uma vez no plural (8+1=9)
- Lembro direitinho das suas palavras: O final desse livro tá me deixando maluco... Não lembra que deu o manuscrito para eu ler?! Opa!!! Você tem outra devolução pendente… Inferno.
- Nossa! Esqueci completamente desse livro. Um minuto, deve estar
aqui na mochila… Pronto, eis o Sr. Strindberg! O que achou do
manuscrito?!
(Falei com Da Vinci – pág.193)
- Nossa! Esqueci completamente desse livro. Um minuto, deve estar
aqui na mochila… Pronto, eis o Sr. Strindberg! O que achou do
manuscrito?!
(Falei com Da Vinci – pág.193)
"O Inferno” de August Strindberg não é um livro, não é vivido pelo leitor como um livro, mas sim como uma experiência." A afirmação de Pier Paolo Pasolini no posfácio deste volume pode dar uma ideia do impacto que esta obra escrita entre 1896 e 1897, é capaz de provocar. Como se, com ela, o leitor tivesse acesso a intimidade de um autor complexo e contraditório. Misto de diário, ensaio e ficção, “O Inferno” é um mergulho no subterrâneo psíquico, no qual a vontade individual parece estar submetida ao poder de forças inconscientes, que transformam o homem num joguete atormentado. No entanto, ela vai além de uma narrativa autobiográfica sobre um momentâneo desequilíbrio mental, “O Inferno” proporciona também uma fascinante discussão sobre os processos de criatividade artística e sua relação com os estados de sanidade ou loucura.
Considere a mochila como algo que carregamos nas costa, algo sobre nossos ombros, um peso... ou medo! Medo de ver seu texto dominado pela força inconsciente, de perder o controle e se transformar num joguete atormentado nas mãos de uma necessidade obsessiva de escrever sobre algo... Inferno de Strindberg, é o exemplo perfeito da ideia, mas, o modelo errado de realização. A ideia está lá o tempo todo alertando, sinalizando e as vezes orientando o autor...
- O Guy disse que tinha um bicho Livro. Perguntou se eu queria ver.
Zoei da cara dele. Aí ele tirou da mochila um bicho Livro desse tamanho. Saí correndo, apavorado. (Falei com Da Vinci – pág.35)
- Naquela mesa tem 54 livros. Escolha alguns prá você.
- Quantos?
- A quantidade que couber na sua mochila. (Falei com Da Vinci – pág.65)
- ... Quando voltou a si, naín lembrava seu nome, endereço ou onde estava… e também naín portava um documento sequer… no seu bolso, havia quarenta e cinco reais e na sua mochila, dois livros e um chaveiro com três chaves. (Falei com Da Vinci – pág.177)
- Se não vivi esses fatos... as gravações não existem...
- As gravações existem. Os fatos, talvez... Deduzi que as chaves na mochila eram da sua residência. Fui até lá e descobri que as gravações são histórias que escreveu... (Falei com Da Vinci – pág.178)
Zoei da cara dele. Aí ele tirou da mochila um bicho Livro desse tamanho. Saí correndo, apavorado. (Falei com Da Vinci – pág.35)
- Naquela mesa tem 54 livros. Escolha alguns prá você.
- Quantos?
- A quantidade que couber na sua mochila. (Falei com Da Vinci – pág.65)
- ... Quando voltou a si, naín lembrava seu nome, endereço ou onde estava… e também naín portava um documento sequer… no seu bolso, havia quarenta e cinco reais e na sua mochila, dois livros e um chaveiro com três chaves. (Falei com Da Vinci – pág.177)
- Se não vivi esses fatos... as gravações não existem...
- As gravações existem. Os fatos, talvez... Deduzi que as chaves na mochila eram da sua residência. Fui até lá e descobri que as gravações são histórias que escreveu... (Falei com Da Vinci – pág.178)
O Graal na Arvore da Vida
- Doutora... o próprio Chrétien descreve o Graal como um Cálice, vou desenhá-lo… Creio que a Doutora entenderá porque ele ganhou o significado de 'sagrado'...
(Falei com Da Vinci – pág.188)
Segundo alguns autores, O Romance do Graal de Chrétien de Troyes, pontua a sociedade da época, questionando as relações entre o homem e mulher, os bens, a hierarquia social, o poder dos reis e da Igreja... Para outros, o Graal é um símbolo do poder sublime e do sentimento que brota do fundo do coração, justificando a máxima: somente os puro de coração podem encontrá-lo e tocá-lo!
Existem muitas interpretações do que seja o Graal: um prato, um cálice, uma pedra ou uma joia. Chrétien de Troyes o descreve como uma taça, enquanto o autor do livro Falei com Da Vinci, nos apresenta uma interpretação do Graal, não como um objeto físico, mas como essência transcendente, simbolizando-o como um bem imaterial configurado na Arvore da Vida, onde o Cálice Sagrado, não é o objeto da busca que nos eleva a plano superiores, mas a busca em si mesma.
Paul Meunier e Marcel Réja em Falei com Da Vinci
- Melhor naín nos aprofundar, ‘ser-aqui’ é uma questão que demanda 'tempo'. Proponho
que lembre-se do garoto e as pedras no lago...
- Escolhas… Quais são minhas opções?
- Paul Meunier e Marcel Réja, diriam que você pode fechar os olhos e acordar. Ou,
- Escolhas… Quais são minhas opções?
- Paul Meunier e Marcel Réja, diriam que você pode fechar os olhos e acordar. Ou,
continuar sonhando com os olhos bem abertos!
- Está bem! Que o jogo continue! Afinal: Sonho, logo existo!
(Falei com Da Vinci – pág.184)
- Está bem! Que o jogo continue! Afinal: Sonho, logo existo!
(Falei com Da Vinci – pág.184)
Marcel Réja é o pseudônimo do médico psiquiatra francês, Paul Gaston Meunier (1873-1957). Essa personalidade instigante, que trafegava numa via de mão dupla, consegue unir suas duas facetas com a revisão de um artigo intitulado “A Arte doente: desenhos de loucos”, publicado 1901. Incentivado por colegas, realizou a ampliação desse artigo na publicação do livro, L’art chez les fous (Arte entre Loucos), em 1907. Essa publicação é um marco na mudança dos paradigmas relativos aos trabalhos expressivos produzidos por pacientes psiquiátricos, um encontro resultante de processos nos dois campos – arte e ciência.
No trecho em que cita o nome e pseudônimo do autor de Arte entre Loucos, como se fossem identidades independentes, além de insinuar o ‘duplo’, Eucajus tem como objetivo, relacionar a construção da sua Imaginação Ativa, com duas ideias apresentadas pelo autor francês. Primeira: o louco se distingue do não louco pelo fato de sofrer o movimento de suas ideias ao invés de dirigi-las. […] Pode-se dizer que é uma espécie de desdobramento mental, vagamente comparado àquele do sonhar acordado [...].” (Réja, 1907/2000: 14). Segunda: Ao lado da obra-prima, que representa, por definição, uma fórmula perfeita, existem numerosas produções mais ou menos elementares; elas vêm das crianças, dos selvagens, dos prisioneiros, dos loucos. Cada uma delas representa um interesse especial [...] . Os homens geniais [...] realçam com beleza as tendências e maneiras de ser do espírito humano; os loucos nos desvelam a nudez de seu mecanismo com a sua ingênua inabilidade. Não procuramos saber até que ponto um artista é suscetível de enlouquecer mas em qual medida a loucura provou estar acompanhada de manifestações artísticas. (Réja, 1907/2000: 13).
Só para constar, Marcel Réja era poeta e um defensor apaixonado dos polêmicos, Edvard Munch, August Strindberg e Henri Héran.
Mais sobre esse psiquiatra genial, AQUI
Filemon, quem é ele?
- Foi com essas palavras que Jung se referiu a Filemon pela primeira
vez: "Graças ao amigo de sempre desvendei o processo de sonhar com olhos abertos"... Peraí!!! A Doutora não está sugerindo?! Que aqui e agora!Tudo isso! Toda essa história! É fruto de uma Imaginação Ativa?! (Falei com Da Vinci – pág.184)
“Da mesma forma que outros personagens da minha imaginação, Filemon trouxe-me o conhecimento decisivo de que existem na alma coisas que não são feitas pelo eu, mas que se fazem por si mesmas, possuindo vida própria. Filemon representava uma força que não era eu. Em imaginação, conversei com ele e disse-me coisas que eu não pensaria conscientemente. Percebi com clareza que era Ele, e não eu, quem falava. Psicologicamente, uma inteligência superior. Era para mim um personagem misterioso que de vez em quando tinha a impressão de que era fisicamente real. Explicou-me que eu lidava com os pensamentos como se eu mesmo os tivesse criado, entretanto, segundo lhe pareci, eles possuem vida própria... Foi assim que, pouco a pouco, como espécie de ‘Guru’, dotado de um saber e de um poder soberano, me ajudando a desenredar as criações involuntárias da minha imaginação... Ele me encaminhou para muitos esclarecimentos interiores, me informando acerca da objetividade psíquica e da realidade da alma.” – Jung.
Creio que, basicamente, isso indica que, da totalidade dos nossos processo mentais, uma pequena fração apenas está sob nosso controle e consciência, o que é mais claramente percebido nos sonhos. Se a nossa percepção de nós mesmos é tão condicionada à nossa memória e à percepção de nosso corpo, e se tudo isso utiliza apenas uma fração menor de nosso cérebro, experiências de expansão de consciência levam necessariamente à perda da identidade, da identificação com o ego.
Isso significaria que, dentro do processo de individuação, mudamos nossa orientação extrovertida, buscando o objeto originário perdido não na sociedade, mas dentro de nós mesmos!
Falsas Memórias
Frederic Bartlett foi o pioneiro nos estudos da falsificação de memórias nos adultos. Para ele, o ato de recordar algum fato é um processo construtivo, baseado nas experiências, expectativas e conhecimentos prévios do indivíduo. A ideia é de que os detalhes de uma experiência específica não podem ser totalmente relembrados, mas seus temas gerais ficam gravados na memória por mais tempo. Assim, quando as pessoas tentam recordar fatos bem antigos, elas são guiadas por temas e esquemas gerais do evento e completam as lacunas já esquecidas com detalhes consistentes a estes esquemas.
Elizabeth Loftus alega que a memória é algo precioso na vida do indivíduo, pois dá a cada um sua identidade. A partir de diversos estudos ela concluiu que a memória das pessoas não é somente a lembrança daquilo que elas fizeram, mas é combinação, também, de tudo o que pensam, acreditam e recebem do meio externo.
As pessoas se lembram do que elas entendem ser o significado do fato e não, necessariamente, dele em si, e isto pode gerar a lembrança de informações incorretas e até mesmo, de falsas memórias. Os eventos são interpretados conforme sua vivência e as interpretações integradas às estruturas semânticas do indivíduo, conhecidas como esquemas. Portanto, o conteúdo da informação é facilmente modificado na memória.
De acordo com Loftus as falsas memórias são criadas através de sugestões ou de imaginações. Um simples procedimento de sugestão é suficiente para fazer com que algumas pessoas construam suas lembranças de forma complexa, viva e detalhada. No caso da imaginação, a pessoa é levada a deixar a mente livre e imaginar, sem a preocupação de o fato ter sido real ou não.
Portanto, as experiências do indivíduo ou até mesmo seu raciocínio sobre o vivenciado pode transformar, distorcer ou contaminar a memória. Os eventos são integrados às inferências que vão além do fato, o que seria uma hipótese de falha no armazenamento da memória, que nesta teoria é influenciada e modificada pelo raciocínio, já que os efeitos da falsa informação mostram a existência de transformações nela influenciadas por informações após o evento.
Isso acontece quando a pessoa tenta lembrar fatos que nunca ocorreram, pondo imagens vívidas que lhes saltam à mente, às lembranças de situações passadas que, na realidade, não existiram. Em outras ocasiões, lembram facilmente do evento ocorrido, mas não do momento e da hora corretos. Às vezes, atribuem uma imagem à imaginação quando na verdade, este fato veio de algo lido ou ouvido. Acreditam ter feito alguma coisa e, quando percebem, tudo não passou de uma imaginação ou sonho.
O ato de relembrar um evento envolve viajar mentalmente no tempo e reviver a experiência. Durante a recuperação, as memórias recobradas que aparentemente têm detalhes fortes são atribuídas às verdadeiras, embora algumas vezes não o sejam.
*
Texto Original: Falsas Memórias: questões teórico-metodológicas
* De: Cíntia Marques Alves e
Ederaldo José Lopes
* Fonte: Universidade
Federal de Uberlândia, Uberlândia, Brasil
O Enigma de Kaspar Hauser
O enigma de Kaspar Hauser, trata-se de um fato verídico, ocorrido em maio de 1828, na cidade de Nuremberg. Um adolescente que aparece numa praça. Era um estranho, ninguém sabia quem era ou de onde vinha. Trazia uma carta de apresentação anônima, contando que fora criado em um porão sem nenhum contato humano, desde o nascimento até aquela idade (provavelmente 15 ou 16 anos).
O adolescente não entendia nada do que lhe diziam, como consequência do enclausuramento, caminhava com dificuldade. Parecia um menino dentro de um corpo adolescente. Seu comportamento estranho para os padrões socioculturais estabelecidos, causava um misto de espanto e interesse. Era visto como um "garoto selvagem," apesar de ser dócil, simples e gentil. Kaspar tornou-se uma espécie de atração, todas as pessoas da cidade queriam vê-lo. O filme de Werner Herzog (O Enigma de Kaspar Hauser) o mostra, em uma cena junto com outros indivíduos, tidos como anormais em exposição num circo.
Kaspar possuía a peculiaridade de enxergar muito longe no escuro e a habilidade de se relacionar com animais, principalmente pássaros. Ao mesmo tempo, tinha medo de galinhas e fugia delas aterrorizado.
A forma como Kaspar percebia a realidade era visto pela sociedade da época como "diferente," estranha, o "outro". Ele próprio se via como um estranho, deslocado, frágil e impotente diante de uma realidade que não conseguia compreender, pelo menos não da forma como esperavam que ele compreendesse. Ou seja, ele estava despido dos "filtros" e estereótipos culturais que condicionam a percepção e o conhecimento. Logo, torna-se um incômodo, pois vê a realidade, com olhos "subversivos", que não aceitam os referenciais que a sociedade insiste em lhe impor, negando, de certa forma, a ordem social vigente. Ele olha as pessoas, os objetos e as situações com o espanto e a perplexidade de um olhar "puro," sem "filtros" ou estereótipos perceptuais. A sua aproximação cognitiva da realidade é direta, ou seja, percebe o mundo de uma maneira ainda não programada pela estereotipia cultural.
Esses "filtros" ou estereótipos, são garantidos e reforçados pela linguagem. Assim, o processo de conhecimento da realidade é regulado por uma contínua interação de práticas culturais de percepção. Mesmo após adquirir uma linguagem suficiente para se comunicar, Kaspar não conseguia atribuir significado às coisas. Assim, somos levados a pensar que não apenas o sistema perceptual, mas as estruturas mentais e a própria linguagem são resultantes da prática social, ou seja, as práticas culturais "modelam" a percepção da realidade e o conhecimento por parte do sujeito.
Izidoro Blikstein, autor do livro ‘Kaspar Hauser ou a Fabricação da Realidade’, afirma: aquilo que concebemos como realidade é apenas uma ilusão, pois a práxis opera em nosso sistema perceptual, ensinando-nos a "ver" o mundo com os "óculos sociais" e gerando conteúdos visuais, tácteis, olfativos e gustativos que aceitamos como naturais. O comportamento de Kaspar abala os fundamentos da ilusão referencial, pois não "enxerga" a realidade da forma como os outros esperam. Assim como alguém que duvida, confronta ou questiona conceitos preestabelecidos, irá sofrer um processo de estigmatização, não apenas como "diferente" ou "anormal," mas também como alguém que não possui identidade.
Está escrito na lápide de Kaspar Hauser, no cemitério de Ansbach, na Alemanha. "Hic occultus occultu uccisus est", quer dizer: "Aqui jaz um desconhecido assassinado por um desconhecido."
Sobre a teoria dos Nove Desconhecidos
- O ano de nascimento e morte de todas personalidades citadas no
História dos Evon resultam no número nove?
- Todas… 36!*
- Porque fez esse cara pra dizer… 36!
- Os Tzadikim Nistarim!
- O conto dos 36 Ocultos…
- Além da coincidência numérica com o livro de Lucia F. Nell, esse conto judaico tem
muita semelhança com a Lenda da Ordem dos Nove Desconhecidos!
(Falei com Da Vinci – pág. 99)
História dos Evon resultam no número nove?
- Todas… 36!*
- Porque fez esse cara pra dizer… 36!
- Os Tzadikim Nistarim!
- O conto dos 36 Ocultos…
- Além da coincidência numérica com o livro de Lucia F. Nell, esse conto judaico tem
muita semelhança com a Lenda da Ordem dos Nove Desconhecidos!
(Falei com Da Vinci – pág. 99)
A sincronicidade é um conceito empírico que surge para tentar dar conta daquilo que foge à explicação causal. Jung diz que “a ligação entre os acontecimentos, em determinadas circunstâncias, pode ser de natureza diferente da ligação causal e exige outro princípio de explicação”
A teoria Dos Nove Desconhecidos construída no início da página 97 até o fim da página 99, em Falei com Da Vinci, é baseada em alguns conceitos de sincronicidade definidos por Jung:
- Coincidência, no tempo, de dois ou vários eventos, sem relação causal mas com o mesmo conteúdo significativo.
- A simultaneidade de um estado psíquico com um ou vários acontecimentos que aparecem como paralelo significativo de um estado subjetivo momentâneo.
- O mesmo significado (transcendente) pode manifestar-se simultaneamente na psique humana e na ordem de um acontecimento externo e independente.
- Coincidência significativa de dois ou mais acontecimentos, em que se trata de algo mais do que uma probabilidade de acasos.
- O princípio da causalidade nos afirma que a conexão entre a causa e o efeito é uma conexão necessária... Na sincronicidade os termos de uma coincidência significativa são ligados pela simultaneidade e pelo significado.
Podemos perceber que nos fenômenos sincronísticos, o tempo e o espaço são relativos, isto é, o fenômeno acontece independente destes. Basicamente o que define a sincronicidade são, coincidência e significado.
O número é o elemento ordenador mais primitivo do espírito humano, instrumento indicado para criar ordem ou para apreender uma certa regularidade já presente, mas ainda desconhecida, isto é, um certo ordenamento entre as coisas. Jung chegou a chamar o número de, “o arquétipo da ordem que se tornou consciente” e cita a estrutura matemática das mandalas, produtos espontâneos do inconsciente para chegar à conclusão de que “o inconsciente emprega o número como fator ordenador”.
Intuição como Teoria
...
- Lembrou... Fiquei surpreso ao ver que o talismã possuía o mesmo de
Pentáculo de Phull... Aliás, ela me mostrou outros sete com o mesmo
símbolo... A diferença estava nas frases...
- Que frase havia nele?
- “A beleza das coisas existe no espírito de quem as contempla.”
- Talismã que pertencia a David Hume...
- Creio que se tratava de um teste de confiança. Sinto decepcioná-lo.
- Decepcionar?! Foi fiel a sua intuição e mostrou entendimento. Estou
‘schopenhausamente’ orgulhoso!
- Mestre... às vezes o senhor me assusta...
(Falei com Da Vinci – pág. 86)
- Lembrou... Fiquei surpreso ao ver que o talismã possuía o mesmo de
Pentáculo de Phull... Aliás, ela me mostrou outros sete com o mesmo
símbolo... A diferença estava nas frases...
- Que frase havia nele?
- “A beleza das coisas existe no espírito de quem as contempla.”
- Talismã que pertencia a David Hume...
- Creio que se tratava de um teste de confiança. Sinto decepcioná-lo.
- Decepcionar?! Foi fiel a sua intuição e mostrou entendimento. Estou
‘schopenhausamente’ orgulhoso!
- Mestre... às vezes o senhor me assusta...
(Falei com Da Vinci – pág. 86)
Ao contrário da filosofia tradicional, Schopenhauer não mais identifica o homem como ser unicamente racional, movido pela razão. Mas sim, um ser movido pela vontade [1]. Por isso, ele questiona o valor do conhecimento abstrato. A razão não é mais confiável, ela necessita dos conceitos para construir o conhecimento e o conceito não consegue apreender a realidade de cada coisa em sua particularidade. Desta forma ele aponta a intuição como forma mais pura de conhecer a realidade objetiva. Ela é um conhecimento instantâneo e imediato desprovido de conceitos e de qualquer forma de julgamento.
Diferente de Schopenhauer que acredita que o conhecimento verdadeiro e puro das coisas se dá por meio da capacidade intuitiva. Para Nietzsche não há conhecimento verdadeiro, o homem não consegue conhecer a verdade das coisas. Mas assim como Schopenhauer, Nietzsche vê a intuição como condição necessária para o conhecimento abstrato, sendo ela o primeiro contanto da mente com a coisa, e através dela a razão tem contato com o mundo objetivo.
Deste modo, para Schopenhauer a intuição é a forma mais pura de conhecimento da realidade. Ela produz um conhecimento real da coisa. Através dos órgãos sensoriais a intuição representa o objeto na mente que é apreendido pelo entendimento. Em seguida a razão conceitua o objeto, formando o conhecimento abstrato. Tendo como escopo a comunicação e o auxílio na vida prática.
[1] Pode considerar-se a realidade sob duas diferentes perspectivas: como representação e como vontade. Como representação o mundo é cognoscível racional, mas o mundo como vontade permanece obscuro. O mundo como vontade e representação é um princípio universal que também vale no reino anorgânico. A vontade é a força que leva a planta a florir. A vontade está no peixe que quer viver na água. Vontade é a garra da ave de rapina que quer comer sua presa. (ZILLES, 2008)
Intuição como fenômeno
- Sei o que é, mas não sei qual é. Abra e descobriremos.
- Um talismã!
- Pentáculo de Phull, símbolo da inteligência intuitiva.
- Ele é bonito. Obrigado Mestre!
- Você fez por merecer... Leu a frase que está gravada?
- “O olho vê somente o que a mente está preparada para compreender.”
(Falei com Da Vinci – pág.85)
A intuição é uma faculdade que possibilita a associação de conteúdos conscientes e inconscientes, estabelecendo um fluxo espontâneo de informações que de outra forma, não seriam relacionados. A intuição, ao contrário dos instintos, possibilita reações diferentes a novas situações apresentadas ao indivíduo.
Segundo Jung, é uma função da percepção que compreende o subliminar, no capítulo X das Obras Completas, ele fala sobre o funcionamento da memória e faz uma relação com a intuição: “... automaticamente a memória costuma utilizar as fontes da associação, mas muitas vezes serve-se desta de um modo tão extraordinário, que é preciso refazer um cuidadoso exame de todo o processo de reprodução, a fim de descobrir como certas lembranças conseguiram chegar à consciência. Muitas vezes essas fontes não podem ser encontradas. Em tais casos é impossível descartar a hipótese da atividade espontânea do inconsciente. Outro exemplo é a intuição, a qual se baseia principalmente em processos inconscientes de natureza muito complexa. Por esta peculiaridade, a intuição é a ‘percepção via inconsciente...”
Pode-se dizer que a intuição é uma função autônoma, sendo impossível submetê-la ao controle da consciência. Da mesma forma, quando precisamos e não conseguimos nos recordar de alguma informação importante, basta nos distrair com qualquer outra coisa para que a informação nos surja à mente, como que por capricho do inconsciente. Assim também a intuição se processa. Tudo que podemos fazer é deixar o caminho livre para que os conteúdos ocultos “sintam-se à vontade” para vir à consciência, nos brindando com o paradoxal frescor da sua sabedoria ancestral.
O Homem Bicenteário
"...
- Saca o filme do Carlitos? Aquele da fábrica?
- Chaplin, Tempos Modernos.
- Esse mesmo... A escola é como um filme onde alunos sem voz são
ensinados a pensar em preto e branco para viver num mundo
colorido! Tudo para que a treta da fábrica continue...
- Que treta?
- A escola tá fabricando peças de reposição. Cada pecinha para o lugar
certo. Assim a grande máquina não para de funcionar... Diploma
acaba virando manual de instrução.
- Estou compreendendo...
- Tem a ver com outro filme também: O Homem Bicentenário.
- Com Robin Williams.
- Esse daí. No filme o robô quer virar humano; o que a gente vê é humano virando robô... (Falei com Da Vinci – pág.59)
- Saca o filme do Carlitos? Aquele da fábrica?
- Chaplin, Tempos Modernos.
- Esse mesmo... A escola é como um filme onde alunos sem voz são
ensinados a pensar em preto e branco para viver num mundo
colorido! Tudo para que a treta da fábrica continue...
- Que treta?
- A escola tá fabricando peças de reposição. Cada pecinha para o lugar
certo. Assim a grande máquina não para de funcionar... Diploma
acaba virando manual de instrução.
- Estou compreendendo...
- Tem a ver com outro filme também: O Homem Bicentenário.
- Com Robin Williams.
- Esse daí. No filme o robô quer virar humano; o que a gente vê é humano virando robô... (Falei com Da Vinci – pág.59)
O robô Andrew realiza uma busca por sua humanidade, da mesma forma que uma pessoa busca aceitação na sociedade em que vive. Sua condição de não envelhecer e adoecer, implicitamente remete ao sonho de imortalidade dos seres humanos, no entanto, essa imortalidade é o principal empecilho para que seja considerado humano. Deuses e seres imortais não devem possuir valores semelhantes aos humanos. A escolha pela condição humana do Robô Andrew significa a aceitação da mortalidade. Assim como os seres humanos, que morrem sem respostas cabais para as dúvidas sobre a natureza de sua própria existência, Andrew morreu sem ouvir o veredicto final sobre sua aceitação formal como ser humano.
Se no filme ‘Tempos Modernos’,
o homem se comporta de forma mecanizada, que ‘tipo’ de humanidade Andrew
buscava?!
Se robôs como Andrew, são encarados como sofisticados brinquedos tecnológicos, não seríamos nós, humanos, apenas brinquedos sociológicos? Brinquedos comandados e manipulados por regras, valores e conceitos!
Um interstício na voz da Caipirinha
“...
- É! O senhor conhece o Peidão?!
- Não, não conheço. Por favor, continue.
- Foi o senhor qui causo o interstício.
- Interstício?
- Foi. Não foi?
- Foi. E sua amiga?
- Ondi eu tava memo?
- No Peidão!” (Falei com Da Vinci – pág.49)
- É! O senhor conhece o Peidão?!
- Não, não conheço. Por favor, continue.
- Foi o senhor qui causo o interstício.
- Interstício?
- Foi. Não foi?
- Foi. E sua amiga?
- Ondi eu tava memo?
- No Peidão!” (Falei com Da Vinci – pág.49)
A forma como falamos carrega vários indícios de quem somos. É por meio da fala que podemos perceber nosso lugar de origem, a faixa etária, o gênero do falante e até mesmo os grupos sociais que frequentamos.
Levar em conta apenas a norma culta da língua, ignorando qualquer fenômeno linguístico que não seja condizente com ela é algo muito comum nas Academias de Letras, editoras e nos currículos escolares. A partir dessa visão equivocada, origina-se o chamado preconceito linguístico. Assim como todo preconceito, trata-se de um pré-julgamento de caráter discriminatório. Nenhuma das línguas faladas no mundo segue todas as convenções linguísticas que as normatizam.
Sendo viva, a língua modifica-se de maneira transversal e atemporal conforme seus falantes. De forma natural as variações e mudanças aumentam a distância entre os usos linguísticos reais e as formas normatizadas, padronizadas, eleitas como modelares. A gramática normativa apenas dita regras sobre uma determinada língua, mas jamais, em hipótese alguma, deve ser utilizada como a única teoria linguística válida. Não podemos ignorá-la por completo, assim como não podemos aceitar que se seja objeto de exclusão social.
Para falar e escrever bem, não precisamos necessariamente ser grandes estudiosos da gramática; precisamos ter contato com a língua padrão, falada ou escrita, para que consigamos internalizar seu conteúdo. Saber gramática, pode ser um elemento importante para que consigamos nos comunicar melhor, mas não uma exigência para tal. Devemos entender ‘variedades e diferenças’ como algo que a enriquece, jamais como um fator de exclusão.
Os Nambiquaras
Nambikwara significa fala inteligente, de gente esperta. Etnia. que pratica o “Xikunahity”, conhecido como futebol com a cabeça.
Os Nambiquaras já foram chamados de “Povos das Cinzas” por dormirem no chão à beira do fogo e amanhecerem cobertos por uma mistura de cinzas e areia. São vários grupos da mesma família linguística (Anunsu, Nhambiquara, Nambikuara, Nambiquara) que receberam, genericamente, o nome de Nambikwara. Eles se diferenciam de outros grupos éticos pela língua, pois falam vários dialetos e contam com traços culturais marcantes e próprios.
Famosos na história da etnologia brasileira por terem sido contatados “oficialmente” pelo Marechal Rondon e por terem sido estudados pelo renomado antropólogo Claude Lévi-Strauss, os Nambiquara vivem hoje em pequenas aldeias, população aproximada de 1682 (Renisi - 2008), nas altas cabeceiras dos rios Juruena, no Vale do Guaporé.
Rituais: Sua origem é explicada pelo mito da pedra preta. Praticam o ritual da flauta sagrada que narra a história do menino que se transformou em alimento para seu povo.
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