O Leitor Implícito


A elaboração estética em Falei com Da Vinci, utiliza uma linguagem mais próxima das situações de fala cotidiana, abdicando do uso de formas mais elaboradas ou complexas com predomínio do sentido metafórico.

O leitor é acionado com marcas, pistas e indícios textuais, que funcionam como uma espécie de roteiro para que a leitura não se perca e seja pertinente. Embora cada leitor, por ter acumulado experiências distintas, vai seguir pistas diferentes e construir seus próprios sentidos sobre o que lê, entretanto, todo autor internaliza um modelo de leitor (“leitor implícito”) a quem eventualmente se dirige. Como poeta que é, Eucajus o faz através de metáforas bem criativas. O trecho abaixo exemplifica o tipo do seu leitor imaginado:

- Mestre. Porque suas histórias não têm título?
- Tenho medo que o título seja melhor que a história. Mas, para satisfazer sua vontade, vamos intitular essa história de Shopping Felicidade.
- Tem loja pra criança nesse shopping?
- Tem lojas para satisfazer todas as idades.
- E praça de alimentação?
- Querida, neste shopping tem um hambúrguer de tirar o chapéu, coloca o MacDano's no chinelo. É o Big Hannibal, especialidade da Hamburgueria Morte Lenta.
- Big Hannibal? Nunca ouvi falar.
- Mestre, eu sei. É o cara que comia o cérebro das pessoas naquele filme, né?
- O hambúrguer é de cérebro?!
- Não querida. Mas... bem que podia ser!
- Credo Mestre!
- De cérebro. Entendi... mas por que Hannibal?
- Porque a mãe dele dizia: Lector, você deve experimentar coisas novas!
- Lector, não. É Lecter!
- Isso, Lecter... Agora queridos inocentes, silêncio!...
(Falei com Da Vinci...)

Esse “leitor implícito” é curioso, lê as entrelinhas, pesquisa citações, interpreta metáforas e faz associações, sente-se provocado com uma leitura repleta de porquês. Porque 'lector' em inglês, é leitor! Quanto a Mac Dano's... o livro fala de leitura... fala de algo que alimenta nosso cérebro...  

Profa. Lucinda M. Tibola