A Deusa Mnemósine


O homem se relaciona com a sociedade através de símbolos construídos para transmitir valores e ideias. Nesse esforço por fazer-se compreender, estabelecemos relações bastante complexas de narração, relacionando palavras e símbolos que misturam o tempo presente com referências ao passado e indagações sobre o futuro.

A memória, a exemplo da linguagem, é permeada por fenômenos que, tanto nos aspectos biológicos quanto nos psicológicos, podem ser vistos como resultado de sistemas dinâmicos de organização

Na Grécia Antiga, os gregos transformaram a Memória na deusa Mnemosine. A poesia é uma das nove filhas de Mnemosine. Segundo Le Goff, o poeta era visto pelos gregos como alguém “possuído pela Memória” (O autor é um poeta). A poesia carrega consigo a capacidade de comunicar ideias complexas através de uma linguagem que, a exemplo do tratamento que os gregos deram aos poetas, pode ser considerada loucura.

Apesar do esforço empreendido pela humanidade em compreender racionalmente todos os fenômenos, e da determinação social em expelir o que não for considerado “normal”, talvez seja nos “possuídos pela Memória” — e pela loucura — que o incompreensível encontra abrigo.