O Inferno de August Strindberg


Em Falei com Da Vinci, a palavra inferno é citada oito vezes no singular e uma vez no plural (8+1=9)
 
- Lembro direitinho das suas palavras: O final desse livro tá me deixando maluco... Não lembra que deu o manuscrito para eu ler?! Opa!!! Você tem outra devolução pendente… Inferno.
- Nossa! Esqueci completamente desse livro. Um minuto, deve estar
aqui na mochila… Pronto, eis o Sr. Strindberg! O que achou do
manuscrito?!
(Falei com Da Vinci – pág.193)
 

"O Inferno” de August Strindberg não é um livro, não é vivido pelo leitor como um livro, mas sim como uma experiência." A afirmação de Pier Paolo Pasolini no posfácio deste volume pode dar uma ideia do impacto que esta obra escrita entre 1896 e 1897, é capaz de provocar. Como se, com ela, o leitor tivesse acesso a intimidade de um autor complexo e contraditório. Misto de diário, ensaio e ficção, “O Inferno” é um mergulho no subterrâneo psíquico, no qual a vontade individual parece estar submetida ao poder de forças inconscientes, que transformam o homem num joguete atormentado. No entanto, ela vai além de uma narrativa autobiográfica sobre um momentâneo desequilíbrio mental, “O Inferno” proporciona também uma fascinante discussão sobre os processos de criatividade artística e sua relação com os estados de sanidade ou loucura.

Considere a mochila como algo que carregamos nas costa, algo sobre nossos ombros, um peso... ou medo! Medo de ver seu texto dominado pela força inconsciente, de perder o controle e se transformar num joguete atormentado nas mãos de uma necessidade obsessiva de escrever sobre algo... Inferno de Strindberg, é o exemplo perfeito da ideia, mas, o modelo errado de realização. A ideia está lá o tempo todo alertando, sinalizando e as vezes orientando o autor...

- O Guy disse que tinha um bicho Livro. Perguntou se eu queria ver.
Zoei da cara dele. Aí ele tirou da mochila um bicho Livro desse tamanho. Saí correndo, apavorado. (Falei com Da Vinci – pág.35)


- Naquela mesa tem 54 livros. Escolha alguns prá você.
- Quantos?
- A quantidade que couber na sua mochila. (Falei com Da Vinci – pág.65)


- ... Quando voltou a si, naín lembrava seu nome, endereço ou onde estava… e também naín portava um documento sequer… no seu bolso, havia quarenta e cinco reais e na sua mochila, dois livros e um chaveiro com três chaves. (Falei com Da Vinci – pág.177)

- Se não vivi esses fatos... as gravações não existem...
- As gravações existem. Os fatos, talvez... Deduzi que as chaves na mochila eram da sua residência. Fui até lá e descobri que as gravações são histórias que escreveu... (Falei com Da Vinci – pág.178)