Falsas Memórias


Frederic Bartlett foi o pioneiro nos estudos da falsificação de memórias nos adultos. Para ele, o ato de recordar algum fato é um processo construtivo, baseado nas experiências, expectativas e conhecimentos prévios do indivíduo. A ideia é de que os detalhes de uma experiência específica não podem ser totalmente relembrados, mas seus temas gerais ficam gravados na memória por mais tempo. Assim, quando as pessoas tentam recordar fatos bem antigos, elas são guiadas por temas e esquemas gerais do evento e completam as lacunas já esquecidas com detalhes consistentes a estes esquemas.

Elizabeth Loftus alega que a memória é algo precioso na vida do indivíduo, pois dá a cada um sua identidade. A partir de diversos estudos ela concluiu que a memória das pessoas não é somente a lembrança daquilo que elas fizeram, mas é combinação, também, de tudo o que pensam, acreditam e recebem do meio externo.

As pessoas se lembram do que elas entendem ser o significado do fato e não, necessariamente, dele em si, e isto pode gerar a lembrança de informações incorretas e até mesmo, de falsas memórias. Os eventos são interpretados conforme sua vivência e as interpretações integradas às estruturas semânticas do indivíduo, conhecidas como esquemas. Portanto, o conteúdo da informação é facilmente modificado na memória.

De acordo com Loftus as falsas memórias são criadas através de sugestões ou de imaginações. Um simples procedimento de sugestão é suficiente para fazer com que algumas pessoas construam suas lembranças de forma complexa, viva e detalhada. No caso da imaginação, a pessoa é levada a deixar a mente livre e imaginar, sem a preocupação de o fato ter sido real ou não.

Portanto, as experiências do indivíduo ou até mesmo seu raciocínio sobre o vivenciado pode transformar, distorcer ou contaminar a memória. Os eventos são integrados às inferências que vão além do fato, o que seria uma hipótese de falha no armazenamento da memória, que nesta teoria é influenciada e modificada pelo raciocínio, já que os efeitos da falsa informação mostram a existência de transformações nela influenciadas por informações após o evento.

Isso acontece quando a pessoa tenta lembrar fatos que nunca ocorreram, pondo imagens vívidas que lhes saltam à mente, às lembranças de situações passadas que, na realidade, não existiram. Em outras ocasiões, lembram facilmente do evento ocorrido, mas não do momento e da hora corretos. Às vezes, atribuem uma imagem à imaginação quando na verdade, este fato veio de algo lido ou ouvido. Acreditam ter feito alguma coisa e, quando percebem, tudo não passou de uma imaginação ou sonho.

O ato de relembrar um evento envolve viajar mentalmente no tempo e reviver a experiência. Durante a recuperação, as memórias recobradas que aparentemente têm detalhes fortes são atribuídas às verdadeiras, embora algumas vezes não o sejam.

* Texto Original: Falsas Memórias: questões teórico-metodológicas

* De: Cíntia Marques Alves e Ederaldo José Lopes

* Fonte: Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, Brasil


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