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Parábolas e fabulas no capitulo ‘Nas Gravações’


As histórias do capitulo ‘Nas Gravações’, servem de ponte, para que possamos responder as futuras questões do texto. Nessas pequenas histórias o autor incluiu metaforicamente as angústias e aflições de todas as fases da vida, desde a infância até a fase madura, aliando aspectos da inocência infantil à profunda apreciação psicológica da velhice, congregando o princípio e o fim da existência humana. O autor faz de forma suave, bem humorada e com encantamento, cujo objetivo é puramente mítico, pois o conto de tradição oral, seja ele lenda, fábula ou parábola, encanta por alimentar o nosso imaginário. As imagens míticas desvelam em linguagem simbólica, as estruturas mentais primitivas que permanecem inibidas na psique do leitor moderno como herança arquetípica da humanidade. O tesouro de poderes imaginativos que está vivo dentro de cada leitor ressurge magicamente a partir da leitura!

Todas as histórias possuem basicamente o mesmo intuito: formar e enriquecer o “Self” do leitor através da irradiação de energias simbólicas que nutrem o pensamento inconsciente. Assim, ao chegar em “Revelações” o leitor estará aparelhado!

Alexandre Duarte








Inventor de coisas para voar

No capítulo Gravações, em Falei com Da Vinci, uma historieta de três páginas, faz referências diretas ao livro Vida e Morte de M.J. Gonzaga de Sá de Lima Barreto, e a alegoria de abertura, “O inventor e a aeronave”.

Nesta obra, Lima Barreto, apresenta um eu que é manipulado por um sujeito que também se apresenta duplicado: um eu que se põe dentro da ficção, mediante a condição de autor implícito, e outro – o autor real – que cria a obra. Este embuste ficcional conserva o jogo dialético e a tensão entre a voz do autor e a voz do narrador, entre o enunciado e a enunciação. Através desse truque de autoria, o autor/real se exime de assumir a autoria do relato, pois inventa um narrador intermediário. “O inventor e a aeronave”, é um texto metalinguístico, que expõe dois níveis da criação: da representação e da estruturação da narrativa, que se fundamenta na arte do fazer literário.

Em Falei com Da Vinci, o autor busca um resultado digamos, ‘quase’ semelhante por caminhos diferentes. Visto que o eu-autor-real se manifesta logo no 'Aviso', declarando a narrativa como experimento de leitura e também de forma implícita do eu-poeta que se manifesta durante toda narrativa através de belas metáforas e associações. E o autor-narrador-fictício, que se revela no penúltimo capítulo, 'Na Persona'. Neste capitulo o autor-narrador-fictício toma consciência da sua condição ficcional, como personagem no processo da Imaginação Ativa. Ao assumir sua existência no mundo da ficção, passa a existir como coautor do livro. Para desatar o provável nó, na sua cabecinha, observe a imagem abaixo:


Num primeiro momento em Falei com Da Vinci, o contexto de realidade do personagem principal é vivido através de suas memórias, num enredo tipicamente pertencente ao realismo fantástico. Num segundo momento, a amnésia psicogênica coloca essa realidade em xeque, como não vivida, mas fruto criativo do personagem-narrador como identidade de escritor. No terceiro momento, o processo da Imaginação Ativa torna o personagem-narrador em personagem-escritor-fictício com potência para existir como representação, e num último momento como estruturação do fazer literário, esse personagem se torna um hibrido de coautor-autor. Deixando no leitor, a péssima sensação de ter perdido algo. Isso ocorre, porque não estamos acostumados a ver ou imaginar as coisas de dentro pra fora... Por ser uma leitura que flui, temos a sensação de afunilamento dos eventos, quando na verdade, ocorre uma expansão. Como diz o hermético personagem Mestre: É dentro dos nossos olhos e ouvidos que a magia acontece! Olhe novamente para imagem acima, e experimente imaginar que você está pintando! Você está na frente do quadro, pintando. A magia, é que se você é o pintor, você não aparece, você não vê seu rosto, lembre-se, você está pintando! No caso, escrevendo ou lendo...

Prof. José S. Queiróz

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Lendo imagens com Falei com Da Vinci


Qualquer pessoa que embarque na viagem de exploração dos significados de uma pintura logo ficará confusa com a quantidade dos pontos de vista apresentados. Uma orientação simples é: se você vê alguma coisa, acredite nela – não importa o que digam. Se você não consegue ver, não acredite. Cada pessoa tem o direito de levar para uma obra de arte o que quiser levar através de sua visão e de sua experiência, e guardar o que decidir guardar, no nível pessoal. No entanto, o conhecimento da história e as habilidades de leitura pode ampliar essa experiência.

- A pequena história do relógio onde a sobreposição dos ponteiros simboliza a relação sexual de um casal, reivindica a mesma percepção que deveríamos ter com a imagem da 'ponte' em Mona Lisa.
- Que percepção Doutora?!
- Que a ponte simboliza uma ligação construída sobre muitos obstáculos daquela época… inacreditavelmente os mesmos obstáculos preconceituosos que impedem a simples interpretação...

Quando se analisa um objeto iconográfico, é importante tentar inverter a lógica tradicional da linearidade, associando o que está sendo estudado com questões atuais associadas ao nosso cotidiano, estabelecendo relações e conexões com contexto.

- Leonardo da Vinci era mesmo um gênio…
- Um gênio que plagiou dois personagens na Ceia…
- Quais?
- Apóstolo André ele plagiou da Ceia de Castagno, pintada 45 anos
antes e o apóstolo Felipe da Ceia de Ghirlandaio, pintada 15 anos antes…

Para que não se perca a intencionalidade de articulação com a narrativa é preciso que se obtenha o máximo possível de informação sobre o objeto iconográfico. Interrogando conteúdos subjetivos, percebendo intenções, finalidades e valores para analisar e desmistificar seus significados aparentes.

- Você tem razão, mas naín respondeu minha pergunta!
- O sal está naquela mesa por se tratar de um poderoso símbolo de amizade nas tradições do antigo Oriente Médio. Símbolo de lealdade, eternidade e pureza… porque jamais apodrece ou se corrompe! Na Bíblia, aliança de sal significa uma relação com Deus que não pode ser rompida...
 
Muitas obras utilizam uma linguagem de simbolismo e alegoria. Os objetos reconhecíveis, mesmo pintados em detalhe, não representam apenas eles mesmos, mas conceitos de significado mais profundo ou mais abstrato. Para entendê-los, é preciso compreender o contexto, a cultura e o artista que o criou.

- Somar! Vou mostrar uma coisa… só um minuto… Aqui estão, olhe esses
desenhos anatômicos feitos por Leonardo. O que vê?
- São perfeitos…
- Viu o que qualquer analfabeto vê! Por Zeus! Veja o que seus ouvidos
ouvem, e escute o que seus olhos veem! O que os desenhos dizem?!

Olhar não é o mesmo que ver, assim como ouvir não é igual a escutar. Olhar envolve apenas o esforço de abrir os olhos; ver significa abrir a mente e usar o intelecto. Como fazer isso?!

- Eu sei.
- Sabe?
- Sei que está na hora de embarcar.

Ver uma pintura é como partir para uma viagem, a melhor maneira de viajar é com um guia que lhe mostre coisas que do contrário passariam despercebidas.

Alexandra Pimentel – Prof. de Artes

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O Leitor Implícito


A elaboração estética em Falei com Da Vinci, utiliza uma linguagem mais próxima das situações de fala cotidiana, abdicando do uso de formas mais elaboradas ou complexas com predomínio do sentido metafórico.

O leitor é acionado com marcas, pistas e indícios textuais, que funcionam como uma espécie de roteiro para que a leitura não se perca e seja pertinente. Embora cada leitor, por ter acumulado experiências distintas, vai seguir pistas diferentes e construir seus próprios sentidos sobre o que lê, entretanto, todo autor internaliza um modelo de leitor (“leitor implícito”) a quem eventualmente se dirige. Como poeta que é, Eucajus o faz através de metáforas bem criativas. O trecho abaixo exemplifica o tipo do seu leitor imaginado:

- Mestre. Porque suas histórias não têm título?
- Tenho medo que o título seja melhor que a história. Mas, para satisfazer sua vontade, vamos intitular essa história de Shopping Felicidade.
- Tem loja pra criança nesse shopping?
- Tem lojas para satisfazer todas as idades.
- E praça de alimentação?
- Querida, neste shopping tem um hambúrguer de tirar o chapéu, coloca o MacDano's no chinelo. É o Big Hannibal, especialidade da Hamburgueria Morte Lenta.
- Big Hannibal? Nunca ouvi falar.
- Mestre, eu sei. É o cara que comia o cérebro das pessoas naquele filme, né?
- O hambúrguer é de cérebro?!
- Não querida. Mas... bem que podia ser!
- Credo Mestre!
- De cérebro. Entendi... mas por que Hannibal?
- Porque a mãe dele dizia: Lector, você deve experimentar coisas novas!
- Lector, não. É Lecter!
- Isso, Lecter... Agora queridos inocentes, silêncio!...
(Falei com Da Vinci...)

Esse “leitor implícito” é curioso, lê as entrelinhas, pesquisa citações, interpreta metáforas e faz associações, sente-se provocado com uma leitura repleta de porquês. Porque 'lector' em inglês, é leitor! Quanto a Mac Dano's... o livro fala de leitura... fala de algo que alimenta nosso cérebro...  

Profa. Lucinda M. Tibola







Alegoria da caverna no crânio


O homem por vezes sente receio em sair de sua “caverna” pessoal e se deparar com uma realidade por vezes desconhecida, por vezes questionada... Quanto mais tem noção da realidade mais o homem tem medo dela e prefere ficar enclausurado nas paredes de sua caverna... Onde seus únicos companheiros são as sombras. Para aumentar o efeito dramático de realidade, há sons ecoando no fundo da caverna, como se viessem das próprias sombras que passam... Este é o mundo sensível, na medida em que a mente é presa e estruturada numa ilusão. Este retrato da condição humana não é fixo...

Platão pergunta: Suponhamos que entre esses homens, um deles se atreve a abalar a visão do que concebe como real?! Se atreve a desafiar as bases de pensamento?! Se atreve a fazer sua própria leitura das obras de Leonardo da Vinci?!

Diríamos em coro: Ele é um louco! Só pode ser louco!

Diríamos, porque o certo é seguir uma multidão cega e surda, enquanto o transgressor precisa ser punido, uma caça às bruxas pela autoridade da intelectualidade pessoal... Enquanto a alegoria da Caverna serve exatamente para reforçar a ideia da busca e da não concepção automática de preceitos comuns.

Além de genial, a ilustração da "caverna", com a cavidade craniana e as imagens projetadas no lóbulo occipital, o autor nos oferece uma bela versão para Alegoria da Caverna de Platão. Falei com Da Vinci é parque de diversão para quem já leu muito na vida!

Pedro Paviani