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A Deusa Mnemósine


O homem se relaciona com a sociedade através de símbolos construídos para transmitir valores e ideias. Nesse esforço por fazer-se compreender, estabelecemos relações bastante complexas de narração, relacionando palavras e símbolos que misturam o tempo presente com referências ao passado e indagações sobre o futuro.

A memória, a exemplo da linguagem, é permeada por fenômenos que, tanto nos aspectos biológicos quanto nos psicológicos, podem ser vistos como resultado de sistemas dinâmicos de organização

Na Grécia Antiga, os gregos transformaram a Memória na deusa Mnemosine. A poesia é uma das nove filhas de Mnemosine. Segundo Le Goff, o poeta era visto pelos gregos como alguém “possuído pela Memória” (O autor é um poeta). A poesia carrega consigo a capacidade de comunicar ideias complexas através de uma linguagem que, a exemplo do tratamento que os gregos deram aos poetas, pode ser considerada loucura.

Apesar do esforço empreendido pela humanidade em compreender racionalmente todos os fenômenos, e da determinação social em expelir o que não for considerado “normal”, talvez seja nos “possuídos pela Memória” — e pela loucura — que o incompreensível encontra abrigo.




O Inferno de August Strindberg


Em Falei com Da Vinci, a palavra inferno é citada oito vezes no singular e uma vez no plural (8+1=9)
 
- Lembro direitinho das suas palavras: O final desse livro tá me deixando maluco... Não lembra que deu o manuscrito para eu ler?! Opa!!! Você tem outra devolução pendente… Inferno.
- Nossa! Esqueci completamente desse livro. Um minuto, deve estar
aqui na mochila… Pronto, eis o Sr. Strindberg! O que achou do
manuscrito?!
(Falei com Da Vinci – pág.193)
 

"O Inferno” de August Strindberg não é um livro, não é vivido pelo leitor como um livro, mas sim como uma experiência." A afirmação de Pier Paolo Pasolini no posfácio deste volume pode dar uma ideia do impacto que esta obra escrita entre 1896 e 1897, é capaz de provocar. Como se, com ela, o leitor tivesse acesso a intimidade de um autor complexo e contraditório. Misto de diário, ensaio e ficção, “O Inferno” é um mergulho no subterrâneo psíquico, no qual a vontade individual parece estar submetida ao poder de forças inconscientes, que transformam o homem num joguete atormentado. No entanto, ela vai além de uma narrativa autobiográfica sobre um momentâneo desequilíbrio mental, “O Inferno” proporciona também uma fascinante discussão sobre os processos de criatividade artística e sua relação com os estados de sanidade ou loucura.

Considere a mochila como algo que carregamos nas costa, algo sobre nossos ombros, um peso... ou medo! Medo de ver seu texto dominado pela força inconsciente, de perder o controle e se transformar num joguete atormentado nas mãos de uma necessidade obsessiva de escrever sobre algo... Inferno de Strindberg, é o exemplo perfeito da ideia, mas, o modelo errado de realização. A ideia está lá o tempo todo alertando, sinalizando e as vezes orientando o autor...

- O Guy disse que tinha um bicho Livro. Perguntou se eu queria ver.
Zoei da cara dele. Aí ele tirou da mochila um bicho Livro desse tamanho. Saí correndo, apavorado. (Falei com Da Vinci – pág.35)


- Naquela mesa tem 54 livros. Escolha alguns prá você.
- Quantos?
- A quantidade que couber na sua mochila. (Falei com Da Vinci – pág.65)


- ... Quando voltou a si, naín lembrava seu nome, endereço ou onde estava… e também naín portava um documento sequer… no seu bolso, havia quarenta e cinco reais e na sua mochila, dois livros e um chaveiro com três chaves. (Falei com Da Vinci – pág.177)

- Se não vivi esses fatos... as gravações não existem...
- As gravações existem. Os fatos, talvez... Deduzi que as chaves na mochila eram da sua residência. Fui até lá e descobri que as gravações são histórias que escreveu... (Falei com Da Vinci – pág.178)

O Graal na Arvore da Vida


- Doutora... o próprio Chrétien descreve o Graal como um Cálice, vou desenhá-lo… Creio que a Doutora entenderá porque ele ganhou o significado de 'sagrado'...
(Falei com Da Vinci – pág.188) 

Segundo alguns autores, O Romance do Graal de Chrétien de Troyes, pontua a sociedade da época, questionando as relações entre o homem e mulher, os bens, a hierarquia social, o poder dos reis e da Igreja... Para outros, o Graal é um símbolo do poder sublime e do sentimento que brota do fundo do coração, justificando a máxima: somente os puro de coração podem encontrá-lo e tocá-lo!

Existem muitas interpretações do que seja o Graal: um prato, um cálice, uma pedra ou uma joia. Chrétien de Troyes o descreve como uma taça, enquanto o autor do livro Falei com Da Vinci, nos apresenta uma interpretação do Graal, não como um objeto físico, mas como essência transcendente, simbolizando-o como um bem imaterial configurado na Arvore da Vida, onde o Cálice Sagrado, não é o objeto da busca que nos eleva a plano superiores, mas a busca em si mesma.






Paul Meunier e Marcel Réja em Falei com Da Vinci


- Melhor naín nos aprofundar, ‘ser-aqui’ é uma questão que demanda 'tempo'. Proponho
que lembre-se do garoto e as pedras no lago...
- Escolhas… Quais são minhas opções?
- Paul Meunier e Marcel Réja, diriam que você pode fechar os olhos e acordar. Ou,
continuar sonhando com os olhos bem abertos!
- Está bem! Que o jogo continue! Afinal: Sonho, logo existo!
(Falei com Da Vinci – pág.184)

Marcel Réja é o pseudônimo do mé­dico psiquiatra francês, Paul Gaston Meunier (1873-1957). Essa personalidade instigante, que trafegava numa via de mão dupla, consegue unir suas duas facetas com a revisão de um artigo intitulado “A Arte doente: desenhos de loucos”, publicado 1901. Incentivado por colegas, realizou a ampliação desse artigo na publicação do livro, L’art chez les fous (Arte entre Loucos), em 1907. Essa publicação é um marco na mudança dos paradigmas relativos aos trabalhos expressivos produzidos por pacientes psiquiátricos, um encontro resultante de processos nos dois campos – arte e ciência.

No trecho em que cita o nome e pseudônimo do autor de Arte entre Loucos, como se fossem identidades independentes, além de insinuar o ‘duplo’, Eucajus tem como objetivo, relacionar a construção da sua Imaginação Ativa, com duas ideias apresentadas pelo autor francês. Primeira: o louco se distingue do não louco pelo fato de sofrer o movimento de suas ideias ao invés de dirigi-las. […] Pode-se dizer que é uma espécie de desdobra­mento mental, vagamente comparado àquele do sonhar acordado [...].” (Réja, 1907/2000: 14). Segunda: Ao lado da obra-prima, que represen­ta, por definição, uma fórmula perfeita, existem numerosas produ­ções mais ou menos elementares; elas vêm das crianças, dos selva­gens, dos prisioneiros, dos loucos. Cada uma delas representa um interesse especial [...] . Os homens geniais [...] realçam com beleza as tendências e maneiras de ser do espírito humano; os loucos nos desvelam a nudez de seu mecanismo com a sua ingênua inabilidade. Não procuramos saber até que ponto um artista é suscetível de enlouquecer mas em qual medida a loucura provou estar acompanhada de manifestações ar­tísticas. (Réja, 1907/2000: 13).

Só para constar, Marcel Réja era poeta e um defensor apaixonado dos polêmicos, Edvard Munch, August Strindberg e Henri Héran.

Mais sobre esse psiquiatra genial, AQUI

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Filemon, quem é ele?


- Foi com essas palavras que Jung se referiu a Filemon pela primeira
vez: "Graças ao amigo de sempre desvendei o processo de sonhar com olhos abertos"... Peraí!!! A Doutora não está sugerindo?! Que aqui e agora!Tudo isso! Toda essa história! É fruto de uma Imaginação Ativa?! (Falei com Da Vinci – pág.184)

“Da mesma forma que outros personagens da minha imaginação, Filemon trouxe-me o conhecimento decisivo de que existem na alma coisas que não são feitas pelo eu, mas que se fazem por si mesmas, possuindo vida própria. Filemon representava uma força que não era eu. Em imaginação, conversei com ele e disse-me coisas que eu não pensaria conscientemente. Percebi com clareza que era Ele, e não eu, quem falava. Psicologicamente, uma inteligência superior. Era para mim um personagem misterioso que de vez em quando tinha a impressão de que era fisicamente real. Explicou-me que eu lidava com os pensamentos como se eu mesmo os tivesse criado, entretanto, segundo lhe pareci, eles possuem vida própria... Foi assim que, pouco a pouco, como espécie de ‘Guru’, dotado de um saber e de um poder soberano, me ajudando a desenredar as criações involuntárias da minha imaginação... Ele me encaminhou para muitos esclarecimentos interiores, me informando acerca da objetividade psíquica e da realidade da alma.” – Jung.

Creio que, basicamente, isso indica que, da totalidade dos nossos processo mentais, uma pequena fração apenas está sob nosso controle e consciência, o que é mais claramente percebido nos sonhos. Se a nossa percepção de nós mesmos é tão condicionada à nossa memória e à percepção de nosso corpo, e se tudo isso utiliza apenas uma fração menor de nosso cérebro, experiências de expansão de consciência levam necessariamente à perda da identidade, da identificação com o ego.

Isso significaria que, dentro do processo de individuação, mudamos nossa orientação extrovertida, buscando o objeto originário perdido não na sociedade, mas dentro de nós mesmos!





Falsas Memórias


Frederic Bartlett foi o pioneiro nos estudos da falsificação de memórias nos adultos. Para ele, o ato de recordar algum fato é um processo construtivo, baseado nas experiências, expectativas e conhecimentos prévios do indivíduo. A ideia é de que os detalhes de uma experiência específica não podem ser totalmente relembrados, mas seus temas gerais ficam gravados na memória por mais tempo. Assim, quando as pessoas tentam recordar fatos bem antigos, elas são guiadas por temas e esquemas gerais do evento e completam as lacunas já esquecidas com detalhes consistentes a estes esquemas.

Elizabeth Loftus alega que a memória é algo precioso na vida do indivíduo, pois dá a cada um sua identidade. A partir de diversos estudos ela concluiu que a memória das pessoas não é somente a lembrança daquilo que elas fizeram, mas é combinação, também, de tudo o que pensam, acreditam e recebem do meio externo.

As pessoas se lembram do que elas entendem ser o significado do fato e não, necessariamente, dele em si, e isto pode gerar a lembrança de informações incorretas e até mesmo, de falsas memórias. Os eventos são interpretados conforme sua vivência e as interpretações integradas às estruturas semânticas do indivíduo, conhecidas como esquemas. Portanto, o conteúdo da informação é facilmente modificado na memória.

De acordo com Loftus as falsas memórias são criadas através de sugestões ou de imaginações. Um simples procedimento de sugestão é suficiente para fazer com que algumas pessoas construam suas lembranças de forma complexa, viva e detalhada. No caso da imaginação, a pessoa é levada a deixar a mente livre e imaginar, sem a preocupação de o fato ter sido real ou não.

Portanto, as experiências do indivíduo ou até mesmo seu raciocínio sobre o vivenciado pode transformar, distorcer ou contaminar a memória. Os eventos são integrados às inferências que vão além do fato, o que seria uma hipótese de falha no armazenamento da memória, que nesta teoria é influenciada e modificada pelo raciocínio, já que os efeitos da falsa informação mostram a existência de transformações nela influenciadas por informações após o evento.

Isso acontece quando a pessoa tenta lembrar fatos que nunca ocorreram, pondo imagens vívidas que lhes saltam à mente, às lembranças de situações passadas que, na realidade, não existiram. Em outras ocasiões, lembram facilmente do evento ocorrido, mas não do momento e da hora corretos. Às vezes, atribuem uma imagem à imaginação quando na verdade, este fato veio de algo lido ou ouvido. Acreditam ter feito alguma coisa e, quando percebem, tudo não passou de uma imaginação ou sonho.

O ato de relembrar um evento envolve viajar mentalmente no tempo e reviver a experiência. Durante a recuperação, as memórias recobradas que aparentemente têm detalhes fortes são atribuídas às verdadeiras, embora algumas vezes não o sejam.

* Texto Original: Falsas Memórias: questões teórico-metodológicas

* De: Cíntia Marques Alves e Ederaldo José Lopes

* Fonte: Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, Brasil


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O Enigma de Kaspar Hauser


O enigma de Kaspar Hauser, trata-se de um fato verídico, ocorrido em maio de 1828, na cidade de Nuremberg. Um adolescente que aparece numa praça. Era um estranho, ninguém sabia quem era ou de onde vinha. Trazia uma carta de apresentação anônima, contando que fora criado em um porão sem nenhum contato humano, desde o nascimento até aquela idade (provavelmente 15 ou 16 anos).

O adolescente não entendia nada do que lhe diziam, como consequência do enclausuramento, caminhava com dificuldade. Parecia um menino dentro de um corpo adolescente. Seu comportamento estranho para os padrões socioculturais estabelecidos, causava um misto de espanto e interesse. Era visto como um "garoto selvagem," apesar de ser dócil, simples e gentil. Kaspar tornou-se uma espécie de atração, todas as pessoas da cidade queriam vê-lo. O filme de Werner Herzog (O Enigma de Kaspar Hauser) o mostra, em uma cena junto com outros indivíduos, tidos como anormais em exposição num circo.

Kaspar possuía a peculiaridade de enxergar muito longe no escuro e a habilidade de se relacionar com animais, principalmente pássaros. Ao mesmo tempo, tinha medo de galinhas e fugia delas aterrorizado.

A forma como Kaspar percebia a realidade era visto pela sociedade da época como "diferente," estranha, o "outro". Ele próprio se via como um estranho, deslocado, frágil e impotente diante de uma realidade que não conseguia compreender, pelo menos não da forma como esperavam que ele compreendesse. Ou seja, ele estava despido dos "filtros" e estereótipos culturais que condicionam a percepção e o conhecimento. Logo, torna-se um incômodo, pois vê a realidade, com olhos "subversivos", que não aceitam os referenciais que a sociedade insiste em lhe impor, negando, de certa forma, a ordem social vigente. Ele olha as pessoas, os objetos e as situações com o espanto e a perplexidade de um olhar "puro," sem "filtros" ou estereótipos perceptuais. A sua aproximação cognitiva da realidade é direta, ou seja, percebe o mundo de uma maneira ainda não programada pela estereotipia cultural.

Esses "filtros" ou estereótipos, são garantidos e reforçados pela linguagem. Assim, o processo de conhecimento da realidade é regulado por uma contínua interação de práticas culturais de percepção. Mesmo após adquirir uma linguagem suficiente para se comunicar, Kaspar não conseguia atribuir significado às coisas. Assim, somos levados a pensar que não apenas o sistema perceptual, mas as estruturas mentais e a própria linguagem são resultantes da prática social, ou seja, as práticas culturais "modelam" a percepção da realidade e o conhecimento por parte do sujeito.

Izidoro Blikstein, autor do livro ‘Kaspar Hauser ou a Fabricação da Realidade’, afirma: aquilo que concebemos como realidade é apenas uma ilusão, pois a práxis opera em nosso sistema perceptual, ensinando-nos a "ver" o mundo com os "óculos sociais" e gerando conteúdos visuais, tácteis, olfativos e gustativos que aceitamos como naturais. O comportamento de Kaspar abala os fundamentos da ilusão referencial, pois não "enxerga" a realidade da forma como os outros esperam. Assim como alguém que duvida, confronta ou questiona conceitos preestabelecidos, irá sofrer um processo de estigmatização, não apenas como "diferente" ou "anormal," mas também como alguém que não possui identidade.

Está escrito na lápide de Kaspar Hauser, no cemitério de Ansbach, na Alemanha. "Hic occultus occultu uccisus est", quer dizer: "Aqui jaz um desconhecido assassinado por um desconhecido."



Sobre a teoria dos Nove Desconhecidos


- O ano de nascimento e morte de todas personalidades citadas no
História dos Evon resultam no número nove?
- Todas… 36!*
- Porque fez esse cara pra dizer… 36!
- Os Tzadikim Nistarim!
- O conto dos 36 Ocultos…
- Além da coincidência numérica com o livro de Lucia F. Nell, esse conto judaico tem
muita semelhança com a Lenda da Ordem dos Nove Desconhecidos!
(Falei com Da Vinci – pág. 99)

A sincronicidade é um conceito empírico que surge para tentar dar conta daquilo que foge à explicação causal. Jung diz que “a ligação entre os acontecimentos, em determinadas circunstâncias, pode ser de natureza diferente da ligação causal e exige outro princípio de explicação

A teoria Dos Nove Desconhecidos construída no início da página 97 até o fim da página 99, em Falei com Da Vinci, é baseada em alguns conceitos de sincronicidade definidos por Jung:

- Coincidência, no tempo, de dois ou vários eventos, sem relação causal mas com o mesmo conteúdo significativo.

- A simultaneidade de um estado psíquico com um ou vários acontecimentos que aparecem como paralelo significativo de um estado subjetivo momentâneo.

- O mesmo significado (transcendente) pode manifestar-se simultaneamente na psique humana e na ordem de um acontecimento externo e independente.

- Coincidência significativa de dois ou mais acontecimentos, em que se trata de algo mais do que uma probabilidade de acasos.

- O princípio da causalidade nos afirma que a conexão entre a causa e o efeito é uma conexão necessária... Na sincronicidade os termos de uma coincidência significativa são ligados pela simultaneidade e pelo significado.

Podemos perceber que nos fenômenos sincronísticos, o tempo e o espaço são relativos, isto é, o fenômeno acontece independente destes. Basicamente o que define a sincronicidade são, coincidência e significado.

O número é o elemento ordenador mais primitivo do espírito humano, instrumento indicado para criar ordem ou para apreender uma certa regularidade já presente, mas ainda desconhecida, isto é, um certo ordenamento entre as coisas. Jung chegou a chamar o número de, “o arquétipo da ordem que se tornou consciente” e cita a estrutura matemática das mandalas, produtos espontâneos do inconsciente para chegar à conclusão de que “o inconsciente emprega o número como fator ordenador”.





Intuição como Teoria


...
- Lembrou... Fiquei surpreso ao ver que o talismã possuía o mesmo de
Pentáculo de Phull... Aliás, ela me mostrou outros sete com o mesmo
símbolo... A diferença estava nas frases...
- Que frase havia nele?
- “A beleza das coisas existe no espírito de quem as contempla.”
- Talismã que pertencia a David Hume...
- Creio que se tratava de um teste de confiança. Sinto decepcioná-lo.
- Decepcionar?! Foi fiel a sua intuição e mostrou entendimento. Estou
‘schopenhausamente’ orgulhoso!
- Mestre... às vezes o senhor me assusta...
(Falei com Da Vinci – pág. 86)

Ao contrário da filosofia tradicional, Schopenhauer não mais identifica o homem como ser unicamente racional, movido pela razão. Mas sim, um ser movido pela vontade [1]. Por isso, ele questiona o valor do conhecimento abstrato. A razão não é mais confiável, ela necessita dos conceitos para construir o conhecimento e o conceito não consegue apreender a realidade de cada coisa em sua particularidade. Desta forma ele aponta a intuição como forma mais pura de conhecer a realidade objetiva. Ela é um conhecimento instantâneo e imediato desprovido de conceitos e de qualquer forma de julgamento.

Diferente de Schopenhauer que acredita que o conhecimento verdadeiro e puro das coisas se dá por meio da capacidade intuitiva. Para Nietzsche não há conhecimento verdadeiro, o homem não consegue conhecer a verdade das coisas. Mas assim como Schopenhauer, Nietzsche vê a intuição como condição necessária para o conhecimento abstrato, sendo ela o primeiro contanto da mente com a coisa, e através dela a razão tem contato com o mundo objetivo.

Deste modo, para Schopenhauer a intuição é a forma mais pura de conhecimento da realidade. Ela produz um conhecimento real da coisa. Através dos órgãos sensoriais a intuição representa o objeto na mente que é apreendido pelo entendimento. Em seguida a razão conceitua o objeto, formando o conhecimento abstrato. Tendo como escopo a comunicação e o auxílio na vida prática.

[1] Pode considerar-se a realidade sob duas diferentes perspectivas: como representação e como vontade. Como representação o mundo é cognoscível racional, mas o mundo como vontade permanece obscuro. O mundo como vontade e representação é um princípio universal que também vale no reino anorgânico. A vontade é a força que leva a planta a florir. A vontade está no peixe que quer viver na água. Vontade é a garra da ave de rapina que quer comer sua presa. (ZILLES, 2008)

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Intuição como fenômeno


- Sei o que é, mas não sei qual é. Abra e descobriremos.
- Um talismã!
- Pentáculo de Phull, símbolo da inteligência intuitiva.
- Ele é bonito. Obrigado Mestre!
- Você fez por merecer... Leu a frase que está gravada?
- “O olho vê somente o que a mente está preparada para compreender.”
(Falei com Da Vinci – pág.85)


A intuição é uma faculdade que possibilita a associação de conteúdos conscientes e inconscientes, estabelecendo um fluxo espontâneo de informações que de outra forma, não seriam relacionados. A intuição, ao contrário dos instintos, possibilita reações diferentes a novas situações apresentadas ao indivíduo.

Segundo Jung, é uma função da percepção que compreende o subliminar, no capítulo X das Obras Completas, ele fala sobre o funcionamento da memória e faz uma relação com a intuição: “... automaticamente a memória costuma utilizar as fontes da associação, mas muitas vezes serve-se desta de um modo tão extraordinário, que é preciso refazer um cuidadoso exame de todo o processo de reprodução, a fim de descobrir como certas lembranças conseguiram chegar à consciência. Muitas vezes essas fontes não podem ser encontradas. Em tais casos é impossível descartar a hipótese da atividade espontânea do inconsciente. Outro exemplo é a intuição, a qual se baseia principalmente em processos inconscientes de natureza muito complexa. Por esta peculiaridade, a intuição é a ‘percepção via inconsciente...”

Pode-se dizer que a intuição é uma função autônoma, sendo impossível submetê-la ao controle da consciência. Da mesma forma, quando precisamos e não conseguimos nos recordar de alguma informação importante, basta nos distrair com qualquer outra coisa para que a informação nos surja à mente, como que por capricho do inconsciente. Assim também a intuição se processa. Tudo que podemos fazer é deixar o caminho livre para que os conteúdos ocultos “sintam-se à vontade” para vir à consciência, nos brindando com o paradoxal frescor da sua sabedoria ancestral.

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O Homem Bicenteário


"...
- Saca o filme do Carlitos? Aquele da fábrica?
- Chaplin, Tempos Modernos.
- Esse mesmo... A escola é como um filme onde alunos sem voz são
ensinados a pensar em preto e branco para viver num mundo
colorido! Tudo para que a treta da fábrica continue...
- Que treta?
- A escola tá fabricando peças de reposição. Cada pecinha para o lugar
certo. Assim a grande máquina não para de funcionar... Diploma
acaba virando manual de instrução.
- Estou compreendendo...
- Tem a ver com outro filme também: O Homem Bicentenário.
- Com Robin Williams.
- Esse daí. No filme o robô quer virar humano; o que a gente vê é humano virando robô... (Falei com Da Vinci – pág.59)

O robô Andrew realiza uma busca por sua humanidade, da mesma forma que uma pessoa busca aceitação na sociedade em que vive. Sua condição de não envelhecer e adoecer, implicitamente remete ao sonho de imortalidade dos seres humanos, no entanto, essa imortalidade é o principal empecilho para que seja considerado humano. Deuses e seres imortais não devem possuir valores semelhantes aos humanos. A escolha pela condição humana do Robô Andrew significa a aceitação da mortalidade. Assim como os seres humanos, que morrem sem respostas cabais para as dúvidas sobre a natureza de sua própria existência, Andrew morreu sem ouvir o veredicto final sobre sua aceitação formal como ser humano.

Se no filme ‘Tempos Modernos’, o homem se comporta de forma mecanizada, que ‘tipo’ de humanidade Andrew buscava?!

Se robôs como Andrew, são encarados como sofisticados brinquedos tecnológicos, não seríamos nós, humanos, apenas brinquedos sociológicos? Brinquedos comandados e manipulados por regras, valores e conceitos!







Um interstício na voz da Caipirinha



“...
- É! O senhor conhece o Peidão?!
- Não, não conheço. Por favor, continue.
- Foi o senhor qui causo o interstício.
- Interstício?
- Foi. Não foi?
- Foi. E sua amiga?
- Ondi eu tava memo?
- No Peidão!”  (Falei com Da Vinci – pág.49)

A forma como falamos carrega vários indícios de quem somos. É por meio da fala que podemos perceber nosso lugar de origem, a faixa etária, o gênero do falante e até mesmo os grupos sociais que frequentamos.

Levar em conta apenas a norma culta da língua, ignorando qualquer fenômeno linguístico que não seja condizente com ela é algo muito comum nas Academias de Letras, editoras e nos currículos escolares. A partir dessa visão equivocada, origina-se o chamado preconceito linguístico. Assim como todo preconceito, trata-se de um pré-julgamento de caráter discriminatório. Nenhuma das línguas faladas no mundo segue todas as convenções linguísticas que as normatizam.

Sendo viva, a língua modifica-se de maneira transversal e atemporal conforme seus falantes. De forma natural as variações e mudanças aumentam a distância entre os usos linguísticos reais e as formas normatizadas, padronizadas, eleitas como modelares. A gramática normativa apenas dita regras sobre uma determinada língua, mas jamais, em hipótese alguma, deve ser utilizada como a única teoria linguística válida. Não podemos ignorá-la por completo, assim como não podemos aceitar que se seja objeto de exclusão social.

Para falar e escrever bem, não precisamos necessariamente ser grandes estudiosos da gramática; precisamos ter contato com a língua padrão, falada ou escrita, para que consigamos internalizar seu conteúdo. Saber gramática, pode ser um elemento importante para que consigamos nos comunicar melhor, mas não uma exigência para tal. Devemos entender ‘variedades e diferenças’ como algo que a enriquece, jamais como um fator de exclusão.

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Os Nambiquaras



Nambikwara significa fala inteligente, de gente esperta. Etnia. que pratica o “Xikunahity”, conhecido como futebol com a cabeça.

Os Nambiquaras já foram chamados de “Povos das Cinzas” por dormirem no chão à beira do fogo e amanhecerem cobertos por uma mistura de cinzas e areia. São vários grupos da mesma família linguística (Anunsu, Nhambiquara, Nambikuara, Nambiquara) que receberam, genericamente, o nome de Nambikwara. Eles se diferenciam de outros grupos éticos pela língua, pois falam vários dialetos e contam com traços culturais marcantes e próprios.

Famosos na história da etnologia brasileira por terem sido contatados “oficialmente” pelo Marechal Rondon e por terem sido estudados pelo renomado antropólogo Claude Lévi-Strauss, os Nambiquara vivem hoje em pequenas aldeias, população aproximada de 1682 (Renisi - 2008), nas altas cabeceiras dos rios Juruena, no Vale do Guaporé.

Rituais: Sua origem é explicada pelo mito da pedra preta. Praticam o ritual da flauta sagrada que narra a história do menino que se transformou em alimento para seu povo.

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Olhando através do aquário



- Lembre-se que os animais também olham pra você.
- O que isso tem a ver com ideias?!
- Quando olha para um aquário, o que vê?
- Um objeto de decoração.
- Se dentro desse objeto de decoração houver uma ideia que pensa. O que ela diria?
- Sei lá!
- Ela diria que você olha para uma prisão!
- Agora entendi...  (Falei com Da Vinci – pág.21)

Em seu livro sobre Foucault, Paul Marie Veyne, também utiliza a metáfora do aquá­rio para nos dizer que somos prisioneiros de um aquário do qual nem percebemos as paredes.

Na introdução, ele compara Foucault a um peixe que consegue transcender o aquário em que vive. Essa figura inquieta extrapola sua própria realidade, observando os demais “peixinhos vermelhos” do lado de fora, sem, contudo, deixar de ser mais um habitante do aquário.

Nós, os contemporâneos, estamos envolvidos por discursos, presos em aquários falsamente transparentes. Somos apreendidos, classificados e tomados por verdades por nós criadas, pois cada época é dona de sua própria verdade. Vivemos em prisões transparentes, sem mesmo perceber que está prisão existe.

Em seu livro, Veyne diz que Foucault, acreditava, que este sujeito somente não poderia fazer descer do céu uma verdade absoluta nem agir soberanamente no céu destas verdades, mas poderia agir contra as verdades e realidades de sua época ou inovar sobre elas.

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Bicho Livro é um Mito


O mito é um modo de falar, ver e sentir dimensões da realidade inatingíveis, dando-lhes significado e consistência. O mito carrega símbolos que apontam para o transcendente, indicando o sentimento de surpresa e mistério diante do que é inconcebível para os seres humanos.

1. O mito se apresenta à maneira de um "relato fictício": imagina uma situação, relata uma estória, que, como toda estória, compreende uma ação e personagens. A forma narrativa do mito, fantasista, bufona ou dramática, o aproxima da fábula, da parábola, da alegoria, mas o distingue da simples imagem, da metáfora, do paradigma ou da analogia que se tece em qualquer texto.

2. O mito rompe com a demonstração dialética; interrompe o discurso conceitual e se propõe explicitamente com outro discurso: não abstrato, mas imagético, não dedutivo, mas narrativo, não argumentativo, mas sugestivo. Faz apelo à imaginação ao invés do raciocínio, por vezes à sensibilidade estética ou a metalinguagem. Mas ao mesmo tempo em que interrompe o discurso argumentado, o substitui. O discurso mítico se oferece como único a poder falar de certas coisas.

3. O mito não é um método para buscar a verdade, é um meio para expor o verossímil. Excluem-se os casos limites dos relatos alegóricos, da finalidade essencialmente lúdica ou pedagógica, simples "auxiliares" a serviço da reflexão ou da compreensão. O mito intervém onde a dialética se mostra inoperante, uma hipótese plausível ainda que não verificável, "sugere o provável". Este provável, por conseguinte não deve ser subestimado, "grande é a vontade" que aportam os mitos, se "a eles se adiciona fé".

4. Se o mito não tem pretensão à verdade, tem pretensão sim ao sentido. Não deve ser lido ou escutado por si mesmo: tem um sentido oculto, é portador de mensagem, demanda, portanto ser superado, traduzido, interpretado, decifrado; e se o autor não dá por vezes chaves de uma decifração possível, o mito permanece frequentemente muito livremente aberto em muitos níveis de significação.

5. O mito contém implicitamente uma dupla "intenção pedagógica": a princípio, porque esclarece o interlocutor em dificuldade e desembaraça o espírito fatigado, ou se faz sustentador de uma discussão que escorrega e patina. Neste caso, ajuda tanto à reflexão quanto à compreensão. O mito não tem somente uma "moral", é também um estimulante moral, outras vezes um fermento espiritual. Às vezes fábulas que desnaturaliza o divino, mais "útil" que o discurso sofístico de abandono intelectual, eventualmente mais "eficaz" que a demonstração dialética, posto que dinamiza a investigação, alimenta a fé e enriquece a esperança.




A Cadeira do Urso

...
- Pare de comer, somente quando o da cadeira com pele de urso parar.
- Não posso parar antes?
- Nem depois. Quando aquele da cadeira do urso parar de comer, todos param.
... (Falei com Da Vinci – pág.90)

O Urso é considerado uma das divindade culturais mais antigas do mundo, símbolo do inconsciente, ligado à terra-mãe, e é uma representação simbólica do nosso instinto animal. Originalmente pode-se dizer que ninguém é menos voraz, menos ganancioso, menos desequilibrado, etc., do que os animais e os homens primitivos. O instinto, em sua forma original, transporta em si mesmo a sua própria medida. Os animais muito raramente comem em excesso - talvez cães o façam, e depois vomitam, mas isto geralmente ocorre porque eles já ingressaram nas áreas perturbadas do homem. O homem interferiu em seus hábitos alimentares, em seus ritmos e em seus horários de alimentação; portanto, não tome os animais domésticos como exemplo: eles foram todos arruinados pela nossa influência. Mas os animais que vivem em plena natureza nunca cometem excessos, nem com sexo, nem com comida, nem coisa alguma, pois seus padrões de comportamento sempre impõem a medida adequada e o momento exato de parar.

(Alquimia e Imaginação Ativa - Marie-Louise Von Franz - Pág. 98)

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Apostolo Mateus



Mateus pertencia a uma família de coletores de impostos, ou Publicanos, e era, ele próprio, um coletor alfandegário em Cafarnaum.

André apontou-o como o representante financeiro dos apóstolos. De certo modo Mateus era o agente fiscal e porta-voz de publicidade da organização apostólica. Era um bom julgador da natureza humana e um eficaz homem de propaganda. Jesus nunca deu a Levi um apelido, mas os seus companheiros apóstolos comumente referiam-se a ele como o “angariador de dinheiro”. 

Levou algum tempo para que os apóstolos, especialmente Simão Zelote e Judas Iscariotes, se reconciliassem de um modo despreocupado com a presença do Publicano no meio deles. A fraqueza de Mateus era o seu ponto de vista estreito e materialista da vida. Em todos esses pontos, contudo, ele fez muitos progressos, com o passar dos meses. Está claro que ele havia de estar ausente em muitas das mais preciosas sessões de instrução, pois o seu dever era manter o tesouro suprido. 

O que Mateus mais apreciava era a disposição que o Mestre tinha de perdoar. Ele nunca cessaria de repetir que o necessário era apenas a fé, na questão de encontrar Deus. E sempre gostava de falar do Reino como “esse negócio de encontrar Deus”. 

Mateus recebia as oferendas voluntariamente feitas pelos discípulos crentes e ouvintes imediatos dos ensinamentos do Mestre, mas ele nunca solicitou fundos abertamente às multidões. Ele fazia todo o seu trabalho financeiro de um modo silencioso e pessoal e levantava a maior parte do dinheiro entre os da classe mais provida de crentes interessados. 

Fonte : O Livro de Urântia

+ SUPLEMENTO



Persona


O termo persona vem do latim persona/ae = máscara, figura, pessoa, etc. Foi utilizado para denominar a máscara que os atores do teatro grego usavam. Sua função era tanto dar ao ator a aparência que o papel exigia quanto amplificar sua voz, permitindo que fosse bem ouvida pelos espectadores. A palavra é derivada do verbo personare, ou "soar através de".

Em psicologia, persona serve de significante para o conjunto de caracteres comportamentais que identificam um indivíduo, na sua relação com o mundo. Jung utilizou o termo persona como agrupamento de conteúdos conscientes e inconscientes, integrante da formação do eu pessoal.

Alegoricamente falando, persona seria a máscara que o indivíduo usa no seu contato com demais indivíduos ou grupos, servindo-lhe de defesa como uma peneira, um anteparo.

Fundamentalmente a “persona” não é nada real: é um compromisso entre individuo e sociedade em relação ao que um homem aparentemente deveria ser. Ele assume um nome, ganha um título, exerce uma função, é isto ou aquilo. Em certo sentido, tudo isso é real. No entanto, em relação à individualidade essencial da pessoa envolvida, esta é somente uma realidade secundária.

A identificação com uma profissão ou título é na realidade muito atraente; é precisamente por isso que tantas pessoas não são nada mais do que o decoro concedido e elas pela sociedade. Em vão procuramos uma personalidade por detrás dessa máscara. É por isso que a profissão - ou qualquer outra capa exterior- é tão atraente: ela oferece uma compensação fácil para as deficiências pessoais, pois a verdadeira identidade permanece oculta, levando as pessoas a viver nas trevas de uma ignorância fundamental de si mesmas.

Quando estamos isolados, em silêncio, sozinhos, nossa persona se manifesta de modo distinto de quando estamos na rua, no trabalho ou numa festa. Há assim uma persona para o convívio social e outra para quando estamos sozinhos. Portanto, quanto mais próxima a persona estiver do eu, mais verdadeiro e mais forte o indivíduo para enfrentar a realidade.